27 janeiro, 2011

O Poder do Mito. Parte II - A Mensagem do Mito

Nesse ponto entramos especificamente nas implicações religiosas dos mitos como narrativas provenientes de muitas culturas e, portanto, repletas de divindades, de diferentes deuses e deusas.
Eis um conceito complexo e delicado, mas que resulta, cremos, numa solução satisfatória na abordagem de Campbell.
Os mitos, por sua natureza são metáforas que se referem ao absolutamente transcendente, ao que não pode ser medido, pensado e só precariamente descrito, dentro das categorias que conhecemos. “E a palavra que, em nossa linguagem, serve prara designar o que há de mais transcendente é Deus”, diz Campbell.
A essa altura ele chama a atenção para o dualismo enraizado em nossa percepção (ser e não ser, claro e escuro, noite e dia, vida e morte, macho e fêmea, passado e futuro). Sobre este dualismo estão fundadas as religiões ocidentais, que carregam consigo, deste modo, uma profunda carga moral (Deus e homem, culpa e expiação, certo e errado, bem e mal) Freqüentemente o resultado é uma incongruente tríade Deus-homem-natureza, fonte de uma esquizofrenia que não permite ceder à natureza “pecaminosa” e implica forçosamente em afastar-se das “coisas do mundo”.
Em sentido oposto, a contrapartida necessária seria a adoção de uma postura de afirmação incondicional do mundo, com tudo o que nele nos aparece. O desafio, incontornável, se apresenta então num comprometimento radical com a realidade (isso incluiria não só o meio ambiente como a política), ao mesmo tempo que uma atitude de não julgamento e de reflexão sobre a essência do Bem realizado (não seria também ele uma ”verdade” imposta, pessoal e coletivamente?)
O cerne da questão figura na busca pela experiência de plenitude, felicidade, expressas nas formas do mito e da religião. Qual a natureza dessas duas esferas?
Para Campbell tanto uma como a outra são metáforas, que devem ser lidas conotativamente sob o risco de, do contrário, ficarem presas aos símbolos. Um problema puramente literário: saber ler poesia como tal, e não interpretá-la como prosa. Nesse erro reside a fonte das nossas chagas pessoais e mesmo daquelas chagas permanentes que se infligem mutuamente as civilizações do Oriente médio, onde convivem as três grandes religiões monoteístas. A solução seria buscar em seu próprio repertório, o referencial, aquilo que é a essência da mensagem.
Para Campbell “Céu e inferno, estão dentro de nós, assim como Deus”. Nesse sentido, uma definição campbelliana de mito muito segura pode ser aqui posta: mitos sãos metáforas, imagens simbólicas que representam e se reportam às diferentes energias internas de nosso corpo em conflito. A questão agora é procurar, igualmente dentro de si, o essencial, invisível, pra encontrar a felicidade, reconhecê-la e vivenciá-la pois “a eternidade aqui e agora é a função da vida”.

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