20 janeiro, 2011

O MASP

O MASP nasce a partir da iniciativa do empresário Assis Chateaubriand e do jornalista e crítico italiano Pedro Maria Bardi, no ano de 1947. A nova sede, projeto de Lina Bo Bardi, demorou cerca de dez anos para ser construída, foi inaugurada em 8 de novembro de 1968 e contou com a presença, entre as várias personalidades ilustres, da Rainha Elizabeth II.
No edifício de aproximadamente 10.000 metros quadrados, há, além dos espaços expositivos e da pinacoteca, biblioteca, fototeca, filmoteca, videoteca, dois auditórios, restaurante, loja, oficinas, ateliê, espaços administrativos e reserva técnica. O acabamento é simples: concreto à vista, caiação, piso de pedra-goiás para o grande Hall Cívico, vidro temperado, paredes plásticas. Os piso são de borracha preta, tipo industrial. O Belvedere é uma 'praça', com plantas e flores em volta, pavimentada com paralelepípedos.
O acervo conta com um grande volume de obras representativas da arte ocidental, arte brasileira, norte e latinoamericana, além de peças significativas produzidas pelas civilizações asiática, africana, egípcia, etrusca, greco-romana e pré-colombiana.
(Fonte: Wikipedia)



Quem pensa na arterial avenida Paulista, ícone máximo da supremacia ecomômica paulistana, lembra logo de outro belíssimo cartão postal da paisagem urbana da capital do Estado que mais cresce no Brasil: o Museu de Arte de São Paulo, o MASP. Símbolo de modernidade, espaço de alto status que recebe o que há de mais significativo na arte nacional e internacional (principalmente internacional), o Museu é considerado a concretização do projeto de uma metrópole avançada e culta, apta a abrigar desde tesouros arqueológicos das civilizações do extremo oriente à nata da vanguarda, seja ela européia ou estadunidense. Em parte isso é verdade.
O famoso novo prédio revela claramente ares de modernidade e parece refletir a vontade de domínio das possibilidades que se abriam em relação às novas técnicas construtivas, experiências audaciosas e empreendedoras que permitiam o espírito otimista dos nossos arquitetos e engenheiros numa época em que se apostava na prosperidade, no projeto de um “Brasil que podia dar certo”. Mas enganados ficamos se nos contentamos em pensar unicamente dessa forma.
Basta olharmos com um pouco mais de cuidado nos pormenores de um outro projeto, o projeto mesmo de Lina Bo Bardi, que concebeu a idéia do novo Museu de Arte de São Paulo, para perceber que havia muito mais que motivações puramente econômicas e financeiramente especulativas por trás do MASP.
“Um terrenozinho pelado”, observa a arquiteta (apud RUBINO; GRINOVER, São Paulo, 2009, p. 122). “(...) passando numa daquelas tardes pela Avenida Paulista, pensei que aquele era o único, o único lugar onde ao Museu de Arte de São Paulo podia ser construído; o único digno, pela projeção popular, de ser “base” do primeiro Museu de Arte da América Latina”.
O primeiro critério já nos revela um olhar profundamente atento às aspirações coletivas, à preservação do espaço público - no sentido mais radical da expressão - à conservação de sua memória afetiva e à criação de um novo ambiente que detenha uma certa autenticidade e, sobretudo, liberdade.
Isso fica patente na clareza e simplicidade monumental da edificação: um imenso caixote de cristal laminado, apoiado unicamente por quatro pilares coligados por vigas de concreto que sustentam o duplo pavimento da Pinacoteca e que abre sob si um imenso vão de mais de 70 metros, espaço em que Lina pretendia como ambiente de exposições ao ar livre, de leitura e congraçamento entre os freqüentadores do lugar, de lazer para as crianças. Escolha de meios sucintos e acabamento à mostra, proporcionam uma visão imediata e expressiva de estrutura comunicando ao mesmo tempo a humildade e a força da arquitetura como arte capaz, estética e funcionalmente, de resistir a “esforços surpreendentes”. (BO BARDI, Lina apud RUBINO; GRINOVER, São Paulo, 2009, p. 130).Esse nobre ideal do projeto torna-se igualmente inequívoco num dos “incidentes” que condicionaram o partido e que, segundo ela, deveriam ser plenamente assumidos a despeito de um perfeccionismo idealista, que resulta em deturpamento da arte tectônca. Uma das condições do projeto, colocada pelo doador do terreno, Joaquim Eugênio de Lima (o “pai” da Avenida Paulista) era que preservasse o panorama do centro através do vale da avenida 9 de Julho. Assumindo como elemento composicional do partido Lina chegou a um conceito que, técnica e formalmente condensava suas convicções profissionais, plásticas, atendendo às urgências funcionais e éticas do meio e da época. O resultado a que chegou, depois de mais de uma década de planejamento e construção, foi um grande prisma pairando no ar, símbolo poderoso e comovente de clareza, transparência, suspensão. Suspensão das barreiras entre arte e vida, da cisão positivista entre natureza e progresso, dos juízos fixos, engessados, em favor de um gozo autêntico de descobrir a arte como instância preciosa do cotidiano. Provocação reflexiva sobre a herança e o patrimônio cultural nacional e cautela frente a um modelo que fosse unicamente um simulacro da produção estrangeira. Nesse espaço homogêneo de livre exposição de obras das mais variadas épocas e sítios, instaura livremente uma perversão da hierarquia de valores estabelecidos.
Tal era o espírito originário dos projetos de Lina, do qual o MASP não figura exceção, mas confirma em sua simplicidade e clareza a máxima expressiva de que “_Menos é mais”.
Recentemente, e em nome de uma adequação às viscissitudes do clima e da preservação do patrimônio o MASP sofreu uma série de modificações que parecem apontar para as soluções mais tradicionais do cubo cênico: instalações de divisórias em lugar dos suportes de vidro sobre base de concreto originais (coerentes com o ideário e concepções originárias de Bo Bardi) , persianas e folders gigantes nas fachadas que na opinião de diversos arquitetos e críticos conferem um caráter de espetáculo e insinuam um viés puramente comercial, decaracterizando assim por completo o partido inicial e todos os desdobramentos intrínsecos ao pensamento e convicções Bobardianos.

Referências
RUBINO, Silvana; GRINOVER, Marina (Org.). Lina por Escrito, Cosac Naify, São Paulo, 2009.