15 junho, 2009

A colher não existe.

A vida é difícil na Matrix.
A colher não existe.
Neo não toma sopa, portanto.
_Nem de letrinhas, tio?
_Não. Nem usa heroína, Joãozinho.
Também lá não há ingleses, por razões óbvias. Não, Charles, não tem colher de chá...
As visitas femininas chegam sempre de surpresa, não há meio de prever o fenômeno visto que ao chão só vão garfos e facas.
Resultado lógico são as freqüentes surpresas, pra lá de desagradáveis, e maior número de divórcios.
Em compensação tudo é resolvido entre marido e mulher, sem que ninguém de fora intervenha. Na verdade, entre mulher e marido (para desepero do infiel, dada a substituição obrigatória da colher de pau por um garfo, espeto de churrasco ou outra saída, inevitável e imediata. Sempre criativa, contudo).
Não há colher, nem torta!
Quero dizer, tortas, há. Mas pra comer "de garfada", o que soa um tanto antipático e inapetecente ao degustador.
E por falar nisso, no tinir dos talheres, os cursos de etiqueta resultam bem menos complicados (... ou bem mais).
Fato é que o setor de construção civil constitui um verdadeiro caos sem a ferramenta mais básica e essencial do
profissional gabaritado para tal: a colher de pedreiro. O mesmo garfo disputa aqui e ali espaço entre a marmita e o
concreto, distribuindo de um lado a outro, chapiscos de massa, carne moída e feijão preto. E embora uma nova e
interessante estética das construções tenha caído no gosto de alguns críticos (fala-se mesmo numa arquitetura mais
"substancial"), é alarmante o número de profissionais sofrendo de problemas que vão desde uma moderada prisão de
ventre até intoxicações mais sérias.
Por fim, e como era de se esperar, se o andar do progresso tem lá seus tropeços, que dirá o ambiente já sempre tão
castigado... Nessa inexorável seleção algumas espécies sofrem duros golpes. É o caso, por exemplo, do pobre pássaro
colhereiro, mais um que passa a integrar a crescente lista dos animais extintos.
Pois é... Realidade dura.
Pra engolir sem colherinha.