16 novembro, 2008

08 outubro, 2008

Retrato

(Retrato, pastel, A3)

Receita de Ofélia?



Baseado em fotografia de Guido Bertram/ Stone)
(Sem título, 1,5 x 1,0 m, óleo sobre tela)


Em alguma outra vida,
devemos ter feito algo de muito grave,
Para sentirmos tanta saudade...
Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé , doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa,
Dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe,
Saudade de uma cachoeira da infância,
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais,
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu,
Saudade de uma cidade,
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem estas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar no quarto e ela na sala, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela pra faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi à consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre culpada,
Se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na internet,
A encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros,
Se ele continua preferindo Malzebier, se ela continua detestando McDonalds,
Se ele continua amando, se ela continua a chorar até nas comédias.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos,
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento,
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música,
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
É não saber se ela está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que eu estive sentido enquanto escrevia
E o que você provavelmente estará sentindo depois que acabar de ler.
(Martha Medeiros)

16 setembro, 2008

Auto-retrato.


("Auto-retrato", óleo sobre tela, 70 x 50 cm. Em andamento.)


I know we're all pretty small in the big scheme of things.

But what kind of difference have I made? What in the world is better because of me?

I am weak. And I am a failure. There is just no getting around it. (...)

And I suppose the most you can hope for

is to make some kind of difference.

Relatively soon, I will die. Maybe in 20 years, maybe tomorrow. It doesn't matter.

Once I am dead and everyone who knew me dies too, it will be as though I never even existed.

What difference has my life made to anyone? None that I can think of. None at all.

Hope things are fine with you.

Yours trully, Warren Schmidt.

(About Schmidt, filme dirigido por Alexander Payne e estrelado por Jack Nicholson, 2002.)


O Homem - Um Mecanismo de Relógio


É realmente inacreditável como a vida da maioria dos homens flui de maneira insignificante e fútil, quando vista externamente, e quão apática e sem sentido pode parecer interiormente. As quatro idades da vida que levam à morte são feitas de ânsia e martírio extenuados, além de uma vertigem ilusória, acompanhada por uma série de pensamentos triviais. Assemelham-se ao mecanismo de um relógio, que é colocado em movimento e gira, sem saber por quê. E toda a vez que um homem é gerado e nasce, dá-se novamente corda ao relógio da vida humana, para então repetir a mesma cantilena pela enésima vez, frase por frase, compasso por compasso, com variações insignificantes.

(Arthur Schopenhauer)




Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an off hand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way
Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
You are young and life is long and there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun
And you run and you run to catch up with the sun, but it's sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death
Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desperation is the English way
The time is gone the song is over, thought I'd something more to say
Home, home again
I like to be here when I can
When I come home cold and tired
It's good to warm my bones beside the fire
Far away across the field
The tolling of the iron bell
Calls the faithful to their knees
To hear the softly spoken magic spells

(Time, do álbum The Dark Side of the Moon da banda Pink Floyd)

Retrato


(Estudo retrato, A3, pastel seco)

29 agosto, 2008

Gonari

Conheça também o trabalho de Gonari!


João Carlos Gonçalves nasceu em Santos, no Estado de São Paulo. Estudou artes plásticas na Associação Cultural Ítalo-Brasileira, e ilustração na Escola Panamericana de Arte.
Além de pintor é publicitário, ilustrador, cenógrafo, escultor, cartunista e escritor.
Participou de exposições no Brasil e no exterior com várias premiações.
www.gonari.blogspot.com

23 junho, 2008

HaRRy lost his two legs.

If he'd only lost his right leg, he could be HaRPy...

But he's just HaPPy now!

(Bad, bad joke. But not cruel at all.)

08 maio, 2008

Saber.

Não, o átomo não é a menor partícula da matéria.
Sim, há muitos mais estados além de sólido líquido e gasoso.
Sim, o céu é azul. Às vezes por muitas horas...
Os sabores dividem-se em: doce, salgado, amargo, azedo, picante, podre, ausente, lembrança...
Sim, a água tem cheiro e é gostosa quando se tem sede (é quando se bebe água).

Seres humanos têm sede por natureza. E desejo de conhecer.
Alguns tem sempre fome.

Solidão é uma porção de gente cercada de ilhas.
Ilíada é um arquipélago grego.
Ilíaco um arquipélago naturalista.
O paraíso fiscal chama Ilícito (não se encontra no mapa).

27 fevereiro, 2008

Tree in the forest

Assista o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=hiZiHqNRgSI

Abaixo está a transcrição em português (Se preferir em inglês, o script dialogue está em: http://www.spaceboy.com.au/treeintheforestdialogue.pdf). 

“Um homem pode, sem seus ouvidos, ouvir como vai o esse mundo; ouvis com vossos olhos...” (essa frase é uma adaptação de um trecho de “Rei Lear”, de William Shakespeare)


Meu nome é Tina. Eu sou surda.
Mas eu não ligo.
Semana passada eu decidi formar uma banda.
Porque você não precisa ouvir pra tocar.
Aliás, você não precisa de ouvido pra fazer quase nada.
Minhas Barbies não ouvem e elas parecem muito felizes.
Dizem que quando uma pessoa perde um dos sentidos os outros se desenvolvem.
Quando eu toco violão, posso ver a música diante de mim, posso sentir as notas nos meus dedos e, apesar de não ouvi-la, não significa que a música não esteja lá.
Ninguém pode me dizer que eu não posso ouvir. Eu me viro bem com as pessoas. Então eu não conto a ninguém. O que os outros não sabem, não os machuca.

Se uma árvore cai na floresta e não tem ninguém pra ouvir, ela faz barulho?
Isso importa se você sabe que ela está caída? Há som, mesmo onde seu ouvido não possa ouvi-lo?

As pessoas pensam que precisam ser capazes de ouvir com o ouvido, mas não.
Você não precisa ouvir os outros pra entendê-los. E você não precisa ouvi-los pra saber que estão agradecidos.
Porque eu deveria dizer aos outros que sou surda, quando não preciso?
Meus olhos escutam e o fazem melhor do que o ouvido da maioria das pessoas. E, considerando o que faço, elas parecem gostar da minha música.
Apesar de ainda não ter uma banda, não sei onde vou achar uma.
Mas isso não me incomoda. Não preciso de uma banda pra tocar, como não preciso de ouvido.
Porque eu deveria dizer às pessoas que sou surda, quando não preciso?
Meus olhos escutam e o fazem melhor do que o ouvido da maioria delas.
Não é mesmo?

Estive pensando... Talvez eu não devesse ignorar o fato de que sou surda.
Talvez meus olhos não consigam escutar tudo.
Talvez eu devesse parar de fingir.
Talvez eu fosse mais feliz se não escondesse isso.
Talvez a única razão pela qual minhas Barbies pareçam tão felizes é porque cirurgia plástica faz isso com elas.
Talvez o que as pessoas não saibam as machuque.
E talvez... talvez você precise ouvir pra saber que se está agradecido.

Meu nome é Tina.
Apesar de surda, eu ainda consigo tocar violão.
Mas eu não posso fazer tudo.

E se uma árvore cai na floresta, e estou só eu, ela não faz barulho.
Eu posso vê-la cair... sentir a poeira no ar, e o vento que sopra...
mas não posso ouvir.
E a partir de agora...
não vou fingir que posso.

17 fevereiro, 2008

Bloqueio

("Casario", óleo sobre tela, 30x40)

Estou pintando este quadro desde 2005! Não sei por que, mas ele tem a incrível capacidade de permanecer inacabado! É pessoal o negócio... RS.

14 fevereiro, 2008

Porque criar é destruir.

(Sem título, grafite editado digitalmente, A4)

De todo o meu passado
Boas e más recordações
Quero viver meu presente
E lembrar tudo depois...

Nessa vida passageira
Eu sou eu, você é você
Isso é o que mais me agrada
Isso é o que me faz dizer...

Que vejo flores em você!...

De todo o meu passado
Boas e más recordações
Quero viver meu presente
E lembrar tudo depois...

Nessa vida passageira
Eu sou eu, você é você
Isso é o que mais me agrada
Isso é o que me faz dizer...

Que vejo flores em você!
Que vejo flores em você!
Que vejo flores em você!
Que vejo flores em você!...

(Flores em você, Ira!)

Acho que minha anima está um pouquiiiiiiiiinho detonada!

Ânimo!

(Bem, lá se foi o senso de humor também! Esquece a piada infame... Ânimo?! Tsc, tsc...)

13 fevereiro, 2008

Número é uma palavra. Ele é palavra. Mente, palavra. Tudo palavra.

("A ...", grafite editado digitalmente, A4) 

Hera, ela, deusa, Kali, bela, pura, Ísis, Inanna, Ístar, Annapurna, noturna, Hel, céu, Vênus, Deméter, Eva, Medusa, dura, Sibila, Cibele, minha, dona, Madonna, Pandora, Helena de Tróia,  Atena, Senhora, Virgem, reza, ave, Maria, ora, Madalena, Babilônia, Besta, Wicca, bruxa, fada, ogra, santa, sua, aranha, nua, Nut, noite, Diana, lua, teia, cheia, teta, terra, serpente, água, fonte, minguante, Gaia, generosa, donzela, ardente, solícita, cobra, venenosa, rapariga, esfinge, sereia, carne, castradora, muralha, fenda, fortaleza, delicada, labirinto, espelho, árvore, porta, casa, poço, moça, Réia, rainha, menarca, racha, láctea, Andrômeda, galáxia, estrela, vaca, sede, lágrima, ninho, gazela, redentora, porca, pérola, costela, ostra, outra, gruta, fêmea, fera, devoradora, vagina, irmã, esposa, mulher, mater, matéria, madrasta, mãe, mama, útero, universo, menopausa, vó, sábia, vida, voz, morte, palavra... 

"_Rolei a escada... não foi nada." (cantarolando) "_Lá vem o pato..."

("Maledita", grafite editado digitalmente, A4)

"Vem!", exclamou Matilda alegre. Ambrosio teve um estremecimento e esperou, aterrorizado, o demônio." (Mathew G. Lewis in O Monge, 1796)

"Donamatildamalditatalidomida: malemaladanadateanimaelatedominaamaledita!"

("Estudo de figura humana", esferográfica digitalmente editada, A4)

Da solidão

Sequioso de escrever um poema que exprimisse a maior dor do mundo, Poe chegou, por exclusão, à idéia da morte da mulher amada. Nada lhe pareceu mais definitivamente doloroso. Assim nasceu "O corvo": o pássaro agoureiro a repetir ao homem sozinho em sua saudade a pungente litania do "nunca mais".

Será esta a maior das solidões? Realmente, o que pode existir de pior que a impossibilidade de arrancar à morte o ser amado, que fez Orfeu descer aos Infernos em busca de Eurídice e acabou por lhe calar a lira mágica? Distante, separado, prisioneiro, ainda pode aquele que ama alimentar sua paixão com o sentimento de que o objeto amado está vivo. Morto este, só lhe restam dois caminhos: o suicídio, físico ou moral, ou uma fé qualquer. E como tal fé constitui uma possibilidade - que outra coisa é a Divina comédia para Dante senão a morte de Beatriz? - cabe uma consideração também dolorosa: a solidão que a morte da mulher amada deixa não é, porquanto absoluta, a maior solidão.

Qual será maior então? Os grandes momentos de solidão, a de Jó, a de Cristo no Horto, tinham a exaltá-la uma fé. A solidão de Carlitos, naquela incrível imagem em que ele aparece na eterna esquina no final de Luzes da cidade, tinha a justificá-la o sacrifício feito pela mulher amada. Penso com mais frio n'alma na solidão dos últimos dias do pintor Toulouse-Lautrec, em seu leito de moribundo, lúcido, fechado em si mesmo, e no duro olhar de ódio que deitou ao pai, segundos antes de morrer, como a culpá-lo de o ter gerado um monstro. Penso com mais frio n'alma ainda na solidão total dos poucos minutos que terão restado ao poeta Hart Crane, quando, no auge da neurastenia, depois de se ter jogado ao mar, numa viagem de regresso do México para os Estados Unidos, viu sobre si mesmo a imensa noite do oceano imenso à sua volta, e ao longe as luzes do navio que se afastava. O que se terão dito o poeta e a eternidade nesses poucos instantes em que ele, quem sabe banhado de poesia total, boiou a esmo sobre a negra massa líquida, à espera do abandono?

Solidão inenarrável, quem sabe povoada de beleza... Mas será ela, também, a maior solidão? A solidão do poeta Rilke, quando, na alta escarpa sobre o Adriático, ouviu no vento a música do primeiro verso que desencadeou as Elegias de Duino, será ela a maior solidão?

Não, a maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, e que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e de ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes da emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto da sua fria e desolada torre.




(Vinícius de Moraes in "Para viver um grande amor - crônicas e poemas")



28 janeiro, 2008

... e era, a um só tempo, herói e donzela, monstro e abismo...


("Antiaquarium", mista, A3)


Sentiu-se como quem vagueia nas florestas do fundo do mar, perdido num mundo monstruoso onde ele próprio era o monstro. Estava só. O passado morto, o futuro inimaginável. (1984, George Orwell)

Hoje sonhei com enormes canhões primitivos movidos à base de pólvora e pedras ígneas, e que vomitavam pirotécnicos sobre uma cidade antiga... Grandes canhões de madeira, robustos, mas descartáveis; um ataque de selvagens à fortaleza dos mocinhos; sonhei com revoluções feministas ecoando pelas ruas, coros de vozes femininas, desafiadoras; viagens a lugares, estranhamente familiares, ora infestados de figurantes, ora ermos; galerias transversais, sex shops (e a fobia de adentrá-los, mesmo vislumbrá-los ao longe - vergonha em ser visto?); tive desencontros, a pé, de motocilcleta, intrigas virtuais, delações ao pé do ouvido... E uma imponente baleia azul que surgia, displiscente, bem de encontro a mim através de um enorme aquário amarelado (me saudava?). E, da mesma maneira que veio, sumiu, sacudindo lateralmente uma enorme e cuidadosamente recortada cauda de peixe (?)... hoje sonhei (melhor seria dizer "_ Hoje acordei depois de um sonho...", porque não tenho absoluta certeza de quem sonhou, nem que hoje, nem que lugar) E nessa lógica, meio sem razão dos sonhos, acordei com a sensação de fazer as pazes com alguma parte secreta de mim mesmo...

27 janeiro, 2008

Perfil pessoal/ profissional


Vertiginosamente consciente de meus próprios sentimentos enterrados, fervilhando de ressentimentos e mágoas piromaníacas, interminavelmente criativo, inquieto, vulcanicamente explosivo e, não obstante, avesso a guerras e conflitos.
Motivado pelo trabalho como desafio, meio de superação, mais do que como serviço, fonte de status, meio de vida.

Analítico (sobretudo auto analítico, rs), dado a fantasias e incertas divagações mas invariavelmente previsível. Avesso a mudanças, geralmente me atraem mais coisas e máquinas que pessoas.
Cindido, dual, contraditório, ansioso por criar coisas belas e funcionais que compensem minhas inadequações e deficiências... Artesão inacabado, curador ferido.
Procuro cultivar relacionamentos significativos, que resultam poucos e espaçados no tempo e que, independente da duração, são profunda e intensamente vivenciados internamente, embora sejam, às vezes, efetivamente negligenciados. Tenho verdadeiro fascínio e adoração por mulheres com inteligência, firmeza e beleza e admiro lealmente amigos extrovertidos e expressivos, capazes de demonstrar, verbal ou fisicamente, o que em mim permanece mudo.
Carente de objetividade e sensível à crítica, "o que aconteceu" é o que eu senti, minha verdade, poço fundo de gratidão reverente ou rancor efervescente. Posso ser, simultaneamente , disponível, simpático e prestativo e também o "cara legal", sustentando a máscara de óleo quente, pequeno Atlas da maciça raiva do mundo.
Muitas vezes pai e mãe de mim mesmo, casado comigo mesmo e a mim mesmo infiel, sou porém fértil no campo das idéias, semeador de formas e de cores, pai coruja de imagens, metáforas e infâmias.
Bastante metódico (i. é. chato), analítico (ou seja, krika) e brilhante (leia-se modesto).
Posso encontrar dificuldade para articular minha profunda introspecção de modo a fazê-la compreensível para os outros. Valorizo a precisão no pensar e no falar. Para mim é importante ser preciso, conciso e articulado. Observo a inconsistência, as contradições e os lapsos no discurso alheio. Examino cuidadosamente todas as opções e chego a conclusões definidas e bem fundamentadas.
Curioso e compreensivo. Discreto, reservado e introspectivo. Constantemente em busca da coerência interna.
Tenho uma vida interior bastante rica de pensamentos e idéias e minha curiosidade é dirigida à busca do entendimento do Universo, das suas verdades e princípios.
Aprecio atividades teóricas ou científicas, gosto de resolver problemas através da análise lógica. Interessado em idéias arrojadas, não me prendo em assuntos corriqueiros ou fragmentados.
Persevero até compreender um assunto em toda a sua complexidade; passo logo para outro, assim que o primeiro tiver sido aprendido.
Costumo criar uma imagem mental de como as coisas deveriam ser, e vivo tentando aperfeiçoar a mim mesmo, aos outros, e a tudo o que há a minha volta. Sustentando padrões muito altos, sou um perfeccionista. Consequentemente, muito duro comigo mesmo, privando do valor devido minhas conquistas, na esfera pessoal como na profissional.
Estimulo a mim mesmo e aos outros para alcançar os próprios objetivos e autodesenvolvimento.
Posso me deixar levar pela necessidade exagerada de conceituar e reduzir tudo a um esquema classificatório.
Preciso tentar equilibrar meus ideais com as necessidades do dia-a-dia. Quando a realidade não se encaixa no meu modelo de perfeição fico frustrado e excessivamente autocrítico.
Cético, determinado e teimoso, preciso aprender a deixar de lado as coisas menos importantes para alcançar as mais importantes. 
Criativo no plano das idéias, confio nas minhas percepções e inspirações, mantendo-me indiferente aos conceitos estabelecidos e ao ceticismo alheio.
Quando estou atuando em áreas de meu interesse possuo excelente força para organizar uma tarefa e concluí-la sem auxílio. Tenho uma grande necessidade de autonomia e independência. Prefiro sempre fazer as coisas a meu modo e quero controlar a execução de seus planos. Gosto de trabalhar com independência, sem interrupções e de atuar em ambientes flexíveis.
Costumo encontrar dificuldade para tocar as coisas até a sua finalização.
Detesto supervisionar os outros ou mediar conflitos.
Sobretudo detesto quem, exaustivamente, só fala de si mesmo. rs

Às vezes sou cínico, irônico... e adoro proparoxítonas.

Quem é você que leu toda essa porcaria? Não leve tão a sério!

26 janeiro, 2008

À inesperada e controversa amizade

("Estudo para San" - grafite, editado digitalmente, A4)

Pequenina tosca poesia

Sandra é um pássaro de plumagem magnífica e canto hipnótico.
Estará à espera de uma gaiola de prata? E quem se atreve? 
Sandra é um gato preto que convida em código: 
Façamos as malas ou fiquemos na casa.
Mas o que escolherá o felino? A casa? Ou quem a leve? 
  
Com que suave som já nasce essa sereia bela, 
Que ao cantar, no tom o contém?  
Que doce bálsamo, veneno, néctar,
Verte aquela que o cântaro sustém? 
E seu rosto, busto, torso (tudo o mais), 
Será que numa aquarela tudo vai bem? 
E se eu torço, e justo, busca a rede e traz, 
Num aquário ela fica (nada bem)? 

Sandra é fenômeno da natureza,.
É seca que queima sem remorso, 
É onda que sem piedade arrasta, 
E um grande tsunami essa pequena... 
Chuva que salva sem pedir em troca, 
É cometa, é mar e terremoto 
É vento que a tudo despedaça, 
Raio que revela, trovão que apequena...  

San é lua? 

Lua, alheia, que influi em tudo, 
Podes mexer em seu próprio ciclo infinito? 
E quando à míngua, ousas contemplar 
Na maré cheia seu reflexo, espelho esquisito? 

San é sol? Sol é sun. 
Só é sol, quem é são. 
San é sol. Só é San?. 
Quem é sol? Quem é San? 

É anjo (nada!), essa fada (finge?)? 
É ninfa, naja? Ou é ninja, esfinge? 
O que ela olha vira pedra. 
O que eu toco vira ouro. 
Musa, mina Medusa – 
Deus, me dás medos demais. 
Deimos, deus nu, medonho, 
tu, mais amenos me dás. 
Medo, desumano demo... 
Sê menos medo, Midas!

24 janeiro, 2008


("Estudo para Copro e Aura" - pastel seco, A4)

Ego 1x0.

("Estudo: padrões aleatórios" - aquarela, A4)

(...) Sonhou com muitas e muitas coisas. Acordou e, à medida em que recordava cada uma delas, ia tentando analisar aquilo de que lembrava, tudo o que viu, ouviu e fez. Pairava sobre si um pressentimento uniforme, crescente, de que tudo aquilo tinha algo a ver com uma única e bem definida coisa, que ironicamente não aparecera no sonho. Permaneceu assim por uns dez minutos, sentindo o coração movido, a palpitar. Levantou. Cruzou a sala, ofegante embora a passos lentos, o corpo começando a acordar... Debruçou na janela do décimo andar, cego da paisagem, e pensou. Pensou. E concluiu que todo o enredo do sonho era determinado pela infeliz acomodação dos seus órgãos internos na geografia acidentada do sofá, pela zoada vespertina do trânsito e pelo choro estridente d'alguma furadeira  na eterna reforma circunvizinha. Ele era Alice. É inútil procurar significado (disse para si mesmo, naquele dialeto ancestral e idiossincrático dos solitários, uma língua inata e morta). É inútil. Não há nada de subjetivo em sonhos. No fim os cientistas explicarão. É questão de tempo. Provavelmente não viverei pra ver, mas é sempre assim... É tudo inútil.

Sentou ao computador. Escreveu, a princípio fácil, depois escolhendo as palavras, selecionando-as. Depois substituindo-as. Apoderou-se do dicionário, pediu ajuda, introduziu preciosismos. E... no final, o que conseguiu?

Perdeu a possibilidade de relembrar o que ainda era fresco na movediça superfície onírica. A vigília barganhou, sorrateira, laços por lapsos e do enredo fugidio do sonho sobrou exclusivamente o  imediatamente lembrado e já irremediavelmente inesquecível. Perdeu uma rica oportunidade de autoconhecimento (mas não saiu ileso; isso, definitivamente não). Livrou-se, é verdade (e só em parte), da incômoda sensação, incógnita, persecutória e recorrente, característica dos sonhos (pelo menos dos seus próprios). Mas, acima de tudo, - e nessa altura sorriu, tamborilando os dedos nas teclas, embalado dentro de sua cabeça que meneava; terminou a última linha e percorreu os olhos pelo monitor numa última e narcísica revisão - acima de tudo, convenceu-se e  parabenizou-se a si mesmo: "_É um bom texto, vou postar no blog."

"A coisa nenhuma deveria ser dado um nome, pois há perigo de que esse nome a transforme."
(Virginia Woolf)

("Estudo: padrões aleatórios" - aquarela, A4)

("Estudo para Contraste" - pastel oleoso, A4)


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo. 

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão. 

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira. 

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta. 

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente. 

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem. 

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte? 

("Traduzir-se", Ferreira Gullar)

22 janeiro, 2008

("Retrato" - grafite, A3)

Bom dia, vovó!

Bom dia, vovó!

Bom dia, vovó!

Bom diaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

("Retrato" - grafite, A4)

("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)

("Retrato" - grafite, A4)

("Retrato" - grafite, A4)

Aquário, 19 de Fevereiro.


("San" - mista sobre tela, 60x40cm)
De acordo com algumas fontes, no dia 19 de fevereiro de 1616, o filósofo e cientista Galileu Galilei  recebeu uma séria advertência do Santo Ofício, após o exame de seu livro sobre as manchas solares, proibindo-o de difundir as idéias heliocêntricas. Galileu teria avistado pela primeira vez com sua luneta (instrumento que ele mesmo aprimorou extraordinariamente) as luas de Júpiter, dentre as quais, Ganimedes. Isso, concluiu ele, era um fortíssimo indício de que, a despeito dos "ensinamentos" de Aristóteles e dos dogmas clericais, a Terra não era o centro do cosmos. Tal fato corroborava a teoria de Copérnico, nascido precisamente nesse mesmo dia, no ano de 1473. Curiosamente a figura mitológica de Ganimedes, o atraente jovem que despertou o desejo de Zeus fazendo com que este o arrebatasse na forma de uma águia e o levasse ao Olimpo para que servisse ambrosia às divindades, corresponde, no zodíaco, à figura do aguadeiro, o homem que sustém e verte a ânfora, símbolo de Aquário.
Outros acontecimentos dignos de nota: nessa data Thomas Edison registra a patente do seu fonógrafo (1878) e a estação espacial MIR é lançada (no ano de 1986. Esta permanece ativa até 23 de março de 2001, quando, numa operação cuidadosamente planejada, desintegra-se adentrando nossa atmosfera e desaparece em inúmeros fragmentos nas profundezas do Pacífico).
Em 1978, o mundo vê a cara de Sandra. Parabéns, minha amiga!

Tudo bem, boneca, mas sem beijo na boca!


"_Ninguém me merece! Ninguém jamais me mereceu!"

("Ad aeternum" - mista, A4)


I thought you'd be out of my mind
And I'd finally found a way to learn to live without you
I thought it was just a matter of time
Till I had a hundred reasons not to think about you

But it's just not so
And after all this time, I still can't let go

I've still got your face
Painted on my heart
Scrawled upon my soul
Etched upon my memory, baby

And got your kiss
Still burning on my lips
The touch of my fingertips
This love so deep inside of me, baby

I've tried everything that I can
To get my heart to forget you
But it just cant seem to

I guess it's just no use
In every part of me
Is still a part of you

And I've still got your face
Painted on my heart
Scrawled upon my soul
Etched upon my memory, baby

And got your kiss
Still burning on my lips
The touch of her fingertips
This love so deep inside of me, baby

I've still got your face
Painted on my heart
Painted on my heart
Painted on my heart, oh baby

Something in your eyes keeps haunting me
I'm trying to escape you
And I know there ain't no way to
To chase you from my mind

I've still got your face
Painted on my heart
Scrawled upon my soul
Etched upon my memory baby

And got your kiss
Still burning on my lips
The touch of my fingertips
This love so deep inside of me, baby

I've still got your face
I've still got your face
Painted on my heart
Painted on my heart


Painted on my Heart (The Cult)

Jesus! Toma A conta!"


("Jesus" - pastel, A3)

Buscai e achareis; pedi e dar-se-vos-á.
Pois há tempo para tudo debaixo do sol!
Tempo para ósculos escuros e multifocais; salientes e sobressalentes de contato, (i. é, pra beeeem pertinho).
E também para monóculos e mesóclises, equilibrados sobre o nariz cansado!
Tempo para o pé, plantar, e para mão, maná (e outra palma grande-manu-faturar).
Tempo para colher e para garfar!
Tempo de guardar, pra nada, e cagar pra tudo!
Para adubar seu jardim e decorar sua alma (e o resto daquela poesia imeeeeeeeeeeeeensa! Um dia vc aprende...)
Enfim, tempo para edificar um moinho e ventilar!
Moer a queixa e encher a pança!
Depois ter uma puta Dulcinéia (aquela de la Mancha!); e fazer dieta.
Mas comei e bebei, gozai (usai engov e camisinha) porque isso é um Don e a sabedoria envelhece demais. Ah, e filtro solar!
Em último caso, batei, e dar-se-vos-á a outra face.
E que os oculista, Deus me livre!, nunca mexa no meu!
Que assim seja.



Sai de mim
Que eu não quero mais saber de você
Esse eu te quero já não me convence mais
E agora já nem me incomoda
Sai de mim, não gosto de ser rejeitado
E agora não tem volta

Eu pego o bonde andando
Você pegou o bonde errado

Sua curiosidade é má
E a ignorância é vizinha da maldade
E só porque eu tenho não pense que é de mim
Que você vai ter e conseguir o que não tem
Só estou aberto a quem sempre foi do bem
E agora estou fechado pra você
Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você
Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você
Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você
Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você

Não me procura não
Você não vai me achar
Você não consegue entender

Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você
Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você
Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você

Não me procura não
Você não vai me achar
Você não consegue entender


 "Do espírito" (Legião Urbana)

"...molha a outra."


("Estudo de mãos" - pastel, A4)

"Uma mão..."


("Estudo de mãos" - mista, A4)

“I've been trying to figure something in my head, and maybe you can help me out, yeah? When a person is insane, as you clearly are, do you know that you're insane? Maybe you're just sitting around, reading "Guns and Ammo", masturbating in your own feces, do you just stop and go, "Wow! It is amazing how fucking crazy I really am!"? Yeah. Do you guys do that?”

(Detective David Mills (Brad Pitt) in "Se7en", 1995,  Directed by David Fincher).

Mééééééééé... Hic!


("Estudo para Sátiro" -  pastel oleoso, A4)