04 setembro, 2009

E por falar em Crepúsculo...


Ensaiando uma reprodução de "Le Crepuscule" de Willian Bouguereau. Óleo sobre tela, 120 x 80 cm.



Às vezes me pego a inquirir (e sei que não de maneira isenta, porque estou também eu profundamente mergulhado na pintura, engatinhando no doce e opressivo labirinto de seus problemas) sobre o ingrediente mágico que fazia com que tais homens, de carne e osso como eu, fossem capazes de criar, em seu tempo, maravilhas do gênio e da técnica. Além disso, me questiono acerca do motivo pelo qual tais obras de arte, não só da pintura como da escultura, da música e das letras, não têm mais seu nascedouro na contemporaneidade. O sublime está morto.
Sou tentado a questionar se por conta do fato de tais felizardos gozarem de todos os recursos de que precisavam - e me refiro não só à abundância do material, sempre à mão, mas sobretudo ao privilégio de uma educação aristocrática, ao cultivo disciplinado da razão como, além, da plena sensibilidade. "Quando um homem não possui a delicadeza de espírito capaz de experimentar esse sentimento, ele só pode ignorar a beleza, mesmo que seja possuidor da ciência e do entendimento de um anjo" advertia Hume. E como contradizê-lo, quando nos surpreendemos diante da produção excelente desses mestres e da inegável riqueza de suas criações artísticas?
Quiçá estivessem todos caindo de amores por suas musas, não se admitindo outra hipótese em questão.
Talvez eu esteja (o que não seria surpresa nem mesmo pra mim) idealizando todo o processo e amaldiçoe o ingênuo e mau romantismo, depois de uma leitura atenta de Walter Benjamin (que não por acaso venho preterindo). Mas... até que ponto se deve prescindir dessas ilusões em detrimento de uma pretensa objetividade do artista? Isso me faz duvidar: não seria essencial para fazer nascer uma peça de arte, certo grau de idealização, de sonho e parcialidade, e mesmo de auto-tapeação?
Que as exigências do real, o preço do aluguel do pão e da carne (da cerveja e dos genéricos), da ameaça de uma Babel, da extinção ansiada e temida do outro, sempre competidor, potencial usurpador de meus direitos mais essenciais (inclusive o da incômoda solidão), que tudo isso, mais a reprodução das condições de produção, o inexorável rolo compressor da mídia, a urgência de uma nova estética e a agenda do fim do Mundo de um Deus banqueiro me forcem a ser mais que gregário, um com a homogeneidade da crescente massa, parceiro unânime e indiviso, ainda assim, me reservo o direito da dúvida, de levantar a suposição infame de que realmente nos tornamos muito medíocres; como indivíduos e como civilização resultamos em bonecos ambiciosos e cínicos, pragmáticos ao extremo, sem muita dignidade, preguiçosos e embrutecidos para criar e experimentar a gratuidade e a beleza e a excelência.
Reservo-me a esse direito, cuspindo pra cima em dia de ventania.
Insuportável e esperando mais sorte no Dia do Sexo do ano que vem.
''L'art pour l'art, business apart!” (Péssimo, eu sei! Paciência... Huahuahuahuahua)

Le Crepuscule (detalhe).

E por falar em eclipse...


Àtimo, óleo sobre tela, 150 x 70 cm.

+ Crepúsculo



Crepúsculo, óleo sobre tela, 50 x 60.