20 janeiro, 2008

"All's I'mer"


"This is not how I am."

("All's I'mer" - aquarela e nanquim, A3)

Decididamente, eu não sou gente.
Eu sou um ente incompetente, mal-acabado
Eu, infelizmente, não consigo sequer ser um mendingo

Dá tudo errado
Deus, quando me fez, devia estar muito invocado
Ganhou o campeonato de fazer nego sofrer
Urubu pousou na minha sorte
Eu nasci pra boi de corte
Deu cupim no meu viver

Sábado passado, quando eu vinha
Uma zinha "da pontinha"
Fez uma linda carinha para mim
Eu, aí, peguei minha pessoa
E fui andando para a boa
Na esperança de um domingo menos ruim

Pois, amigo, que é que você acha
Vou e levo uma "bolacha"
De um frajola que eu não sei de onde surgiu
E que, além de tudo, não contente 
Me mandou apenasmente

Quando você está mesmo sem sorte
Nem a vida e nem a morte
Querem nada de saber de você, não
Você pode estar morto, defunto
E vêm os vermes todos juntos
Lhe pedir pra não seguir a refeição

Chega o dia e a vida está tão chata
Que você pega e se mata
Dá um tiro que parece de canhão
Mas a sua sorte é tão ingrata que ele sai pela culatra
Com licença da expressão

"Decididamente" (Vinícius de Moraes)

Ellis

"_Quero ver deus..."

("Ellis" aquarela e nanquim, A3)

"Por que me descobriste no abandono?
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo?
Quando eu estava bem, morta de sono?

Com que mentira abriste o meu segredo?
De que romance antigo me roubaste?
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo?

Por que não me deixaste adormecida?
E me indicaste o mar, com que navio?
E me deixaste só, com que saída?

Por que desceste ao meu porão sombrio?
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio?"

"Soneto" (Chico Buarque de Hollanda)

Highway to hell!


"Ir às trevas com uma luz, significa conhecer a luz.

Para conhecer as trevas ande pela escuridão."

("Sátiro" técnica mista, A2) 

Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...

Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...

Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...

Vamos celebrar Eros e Tanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...

Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros...

Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...

Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...

Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...

Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...

Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!...

"Perfeição"
(Legião Urbana)

Composição: Renato Russo