28 janeiro, 2008

... e era, a um só tempo, herói e donzela, monstro e abismo...


("Antiaquarium", mista, A3)


Sentiu-se como quem vagueia nas florestas do fundo do mar, perdido num mundo monstruoso onde ele próprio era o monstro. Estava só. O passado morto, o futuro inimaginável. (1984, George Orwell)

Hoje sonhei com enormes canhões primitivos movidos à base de pólvora e pedras ígneas, e que vomitavam pirotécnicos sobre uma cidade antiga... Grandes canhões de madeira, robustos, mas descartáveis; um ataque de selvagens à fortaleza dos mocinhos; sonhei com revoluções feministas ecoando pelas ruas, coros de vozes femininas, desafiadoras; viagens a lugares, estranhamente familiares, ora infestados de figurantes, ora ermos; galerias transversais, sex shops (e a fobia de adentrá-los, mesmo vislumbrá-los ao longe - vergonha em ser visto?); tive desencontros, a pé, de motocilcleta, intrigas virtuais, delações ao pé do ouvido... E uma imponente baleia azul que surgia, displiscente, bem de encontro a mim através de um enorme aquário amarelado (me saudava?). E, da mesma maneira que veio, sumiu, sacudindo lateralmente uma enorme e cuidadosamente recortada cauda de peixe (?)... hoje sonhei (melhor seria dizer "_ Hoje acordei depois de um sonho...", porque não tenho absoluta certeza de quem sonhou, nem que hoje, nem que lugar) E nessa lógica, meio sem razão dos sonhos, acordei com a sensação de fazer as pazes com alguma parte secreta de mim mesmo...