28 janeiro, 2008

... e era, a um só tempo, herói e donzela, monstro e abismo...


("Antiaquarium", mista, A3)


Sentiu-se como quem vagueia nas florestas do fundo do mar, perdido num mundo monstruoso onde ele próprio era o monstro. Estava só. O passado morto, o futuro inimaginável. (1984, George Orwell)

Hoje sonhei com enormes canhões primitivos movidos à base de pólvora e pedras ígneas, e que vomitavam pirotécnicos sobre uma cidade antiga... Grandes canhões de madeira, robustos, mas descartáveis; um ataque de selvagens à fortaleza dos mocinhos; sonhei com revoluções feministas ecoando pelas ruas, coros de vozes femininas, desafiadoras; viagens a lugares, estranhamente familiares, ora infestados de figurantes, ora ermos; galerias transversais, sex shops (e a fobia de adentrá-los, mesmo vislumbrá-los ao longe - vergonha em ser visto?); tive desencontros, a pé, de motocilcleta, intrigas virtuais, delações ao pé do ouvido... E uma imponente baleia azul que surgia, displiscente, bem de encontro a mim através de um enorme aquário amarelado (me saudava?). E, da mesma maneira que veio, sumiu, sacudindo lateralmente uma enorme e cuidadosamente recortada cauda de peixe (?)... hoje sonhei (melhor seria dizer "_ Hoje acordei depois de um sonho...", porque não tenho absoluta certeza de quem sonhou, nem que hoje, nem que lugar) E nessa lógica, meio sem razão dos sonhos, acordei com a sensação de fazer as pazes com alguma parte secreta de mim mesmo...

27 janeiro, 2008

Perfil pessoal/ profissional


Vertiginosamente consciente de meus próprios sentimentos enterrados, fervilhando de ressentimentos e mágoas piromaníacas, interminavelmente criativo, inquieto, vulcanicamente explosivo e, não obstante, avesso a guerras e conflitos.
Motivado pelo trabalho como desafio, meio de superação, mais do que como serviço, fonte de status, meio de vida.

Analítico (sobretudo auto analítico, rs), dado a fantasias e incertas divagações mas invariavelmente previsível. Avesso a mudanças, geralmente me atraem mais coisas e máquinas que pessoas.
Cindido, dual, contraditório, ansioso por criar coisas belas e funcionais que compensem minhas inadequações e deficiências... Artesão inacabado, curador ferido.
Procuro cultivar relacionamentos significativos, que resultam poucos e espaçados no tempo e que, independente da duração, são profunda e intensamente vivenciados internamente, embora sejam, às vezes, efetivamente negligenciados. Tenho verdadeiro fascínio e adoração por mulheres com inteligência, firmeza e beleza e admiro lealmente amigos extrovertidos e expressivos, capazes de demonstrar, verbal ou fisicamente, o que em mim permanece mudo.
Carente de objetividade e sensível à crítica, "o que aconteceu" é o que eu senti, minha verdade, poço fundo de gratidão reverente ou rancor efervescente. Posso ser, simultaneamente , disponível, simpático e prestativo e também o "cara legal", sustentando a máscara de óleo quente, pequeno Atlas da maciça raiva do mundo.
Muitas vezes pai e mãe de mim mesmo, casado comigo mesmo e a mim mesmo infiel, sou porém fértil no campo das idéias, semeador de formas e de cores, pai coruja de imagens, metáforas e infâmias.
Bastante metódico (i. é. chato), analítico (ou seja, krika) e brilhante (leia-se modesto).
Posso encontrar dificuldade para articular minha profunda introspecção de modo a fazê-la compreensível para os outros. Valorizo a precisão no pensar e no falar. Para mim é importante ser preciso, conciso e articulado. Observo a inconsistência, as contradições e os lapsos no discurso alheio. Examino cuidadosamente todas as opções e chego a conclusões definidas e bem fundamentadas.
Curioso e compreensivo. Discreto, reservado e introspectivo. Constantemente em busca da coerência interna.
Tenho uma vida interior bastante rica de pensamentos e idéias e minha curiosidade é dirigida à busca do entendimento do Universo, das suas verdades e princípios.
Aprecio atividades teóricas ou científicas, gosto de resolver problemas através da análise lógica. Interessado em idéias arrojadas, não me prendo em assuntos corriqueiros ou fragmentados.
Persevero até compreender um assunto em toda a sua complexidade; passo logo para outro, assim que o primeiro tiver sido aprendido.
Costumo criar uma imagem mental de como as coisas deveriam ser, e vivo tentando aperfeiçoar a mim mesmo, aos outros, e a tudo o que há a minha volta. Sustentando padrões muito altos, sou um perfeccionista. Consequentemente, muito duro comigo mesmo, privando do valor devido minhas conquistas, na esfera pessoal como na profissional.
Estimulo a mim mesmo e aos outros para alcançar os próprios objetivos e autodesenvolvimento.
Posso me deixar levar pela necessidade exagerada de conceituar e reduzir tudo a um esquema classificatório.
Preciso tentar equilibrar meus ideais com as necessidades do dia-a-dia. Quando a realidade não se encaixa no meu modelo de perfeição fico frustrado e excessivamente autocrítico.
Cético, determinado e teimoso, preciso aprender a deixar de lado as coisas menos importantes para alcançar as mais importantes. 
Criativo no plano das idéias, confio nas minhas percepções e inspirações, mantendo-me indiferente aos conceitos estabelecidos e ao ceticismo alheio.
Quando estou atuando em áreas de meu interesse possuo excelente força para organizar uma tarefa e concluí-la sem auxílio. Tenho uma grande necessidade de autonomia e independência. Prefiro sempre fazer as coisas a meu modo e quero controlar a execução de seus planos. Gosto de trabalhar com independência, sem interrupções e de atuar em ambientes flexíveis.
Costumo encontrar dificuldade para tocar as coisas até a sua finalização.
Detesto supervisionar os outros ou mediar conflitos.
Sobretudo detesto quem, exaustivamente, só fala de si mesmo. rs

Às vezes sou cínico, irônico... e adoro proparoxítonas.

Quem é você que leu toda essa porcaria? Não leve tão a sério!

26 janeiro, 2008

À inesperada e controversa amizade

("Estudo para San" - grafite, editado digitalmente, A4)

Pequenina tosca poesia

Sandra é um pássaro de plumagem magnífica e canto hipnótico.
Estará à espera de uma gaiola de prata? E quem se atreve? 
Sandra é um gato preto que convida em código: 
Façamos as malas ou fiquemos na casa.
Mas o que escolherá o felino? A casa? Ou quem a leve? 
  
Com que suave som já nasce essa sereia bela, 
Que ao cantar, no tom o contém?  
Que doce bálsamo, veneno, néctar,
Verte aquela que o cântaro sustém? 
E seu rosto, busto, torso (tudo o mais), 
Será que numa aquarela tudo vai bem? 
E se eu torço, e justo, busca a rede e traz, 
Num aquário ela fica (nada bem)? 

Sandra é fenômeno da natureza,.
É seca que queima sem remorso, 
É onda que sem piedade arrasta, 
E um grande tsunami essa pequena... 
Chuva que salva sem pedir em troca, 
É cometa, é mar e terremoto 
É vento que a tudo despedaça, 
Raio que revela, trovão que apequena...  

San é lua? 

Lua, alheia, que influi em tudo, 
Podes mexer em seu próprio ciclo infinito? 
E quando à míngua, ousas contemplar 
Na maré cheia seu reflexo, espelho esquisito? 

San é sol? Sol é sun. 
Só é sol, quem é são. 
San é sol. Só é San?. 
Quem é sol? Quem é San? 

É anjo (nada!), essa fada (finge?)? 
É ninfa, naja? Ou é ninja, esfinge? 
O que ela olha vira pedra. 
O que eu toco vira ouro. 
Musa, mina Medusa – 
Deus, me dás medos demais. 
Deimos, deus nu, medonho, 
tu, mais amenos me dás. 
Medo, desumano demo... 
Sê menos medo, Midas!

24 janeiro, 2008


("Estudo para Copro e Aura" - pastel seco, A4)

Ego 1x0.

("Estudo: padrões aleatórios" - aquarela, A4)

(...) Sonhou com muitas e muitas coisas. Acordou e, à medida em que recordava cada uma delas, ia tentando analisar aquilo de que lembrava, tudo o que viu, ouviu e fez. Pairava sobre si um pressentimento uniforme, crescente, de que tudo aquilo tinha algo a ver com uma única e bem definida coisa, que ironicamente não aparecera no sonho. Permaneceu assim por uns dez minutos, sentindo o coração movido, a palpitar. Levantou. Cruzou a sala, ofegante embora a passos lentos, o corpo começando a acordar... Debruçou na janela do décimo andar, cego da paisagem, e pensou. Pensou. E concluiu que todo o enredo do sonho era determinado pela infeliz acomodação dos seus órgãos internos na geografia acidentada do sofá, pela zoada vespertina do trânsito e pelo choro estridente d'alguma furadeira  na eterna reforma circunvizinha. Ele era Alice. É inútil procurar significado (disse para si mesmo, naquele dialeto ancestral e idiossincrático dos solitários, uma língua inata e morta). É inútil. Não há nada de subjetivo em sonhos. No fim os cientistas explicarão. É questão de tempo. Provavelmente não viverei pra ver, mas é sempre assim... É tudo inútil.

Sentou ao computador. Escreveu, a princípio fácil, depois escolhendo as palavras, selecionando-as. Depois substituindo-as. Apoderou-se do dicionário, pediu ajuda, introduziu preciosismos. E... no final, o que conseguiu?

Perdeu a possibilidade de relembrar o que ainda era fresco na movediça superfície onírica. A vigília barganhou, sorrateira, laços por lapsos e do enredo fugidio do sonho sobrou exclusivamente o  imediatamente lembrado e já irremediavelmente inesquecível. Perdeu uma rica oportunidade de autoconhecimento (mas não saiu ileso; isso, definitivamente não). Livrou-se, é verdade (e só em parte), da incômoda sensação, incógnita, persecutória e recorrente, característica dos sonhos (pelo menos dos seus próprios). Mas, acima de tudo, - e nessa altura sorriu, tamborilando os dedos nas teclas, embalado dentro de sua cabeça que meneava; terminou a última linha e percorreu os olhos pelo monitor numa última e narcísica revisão - acima de tudo, convenceu-se e  parabenizou-se a si mesmo: "_É um bom texto, vou postar no blog."

"A coisa nenhuma deveria ser dado um nome, pois há perigo de que esse nome a transforme."
(Virginia Woolf)

("Estudo: padrões aleatórios" - aquarela, A4)

("Estudo para Contraste" - pastel oleoso, A4)


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo. 

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão. 

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira. 

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta. 

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente. 

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem. 

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte? 

("Traduzir-se", Ferreira Gullar)

22 janeiro, 2008

("Retrato" - grafite, A3)

Bom dia, vovó!

Bom dia, vovó!

Bom dia, vovó!

Bom diaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

("Retrato" - grafite, A4)

("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)
("Retrato" - grafite, A4)

("Retrato" - grafite, A4)

("Retrato" - grafite, A4)

Aquário, 19 de Fevereiro.


("San" - mista sobre tela, 60x40cm)
De acordo com algumas fontes, no dia 19 de fevereiro de 1616, o filósofo e cientista Galileu Galilei  recebeu uma séria advertência do Santo Ofício, após o exame de seu livro sobre as manchas solares, proibindo-o de difundir as idéias heliocêntricas. Galileu teria avistado pela primeira vez com sua luneta (instrumento que ele mesmo aprimorou extraordinariamente) as luas de Júpiter, dentre as quais, Ganimedes. Isso, concluiu ele, era um fortíssimo indício de que, a despeito dos "ensinamentos" de Aristóteles e dos dogmas clericais, a Terra não era o centro do cosmos. Tal fato corroborava a teoria de Copérnico, nascido precisamente nesse mesmo dia, no ano de 1473. Curiosamente a figura mitológica de Ganimedes, o atraente jovem que despertou o desejo de Zeus fazendo com que este o arrebatasse na forma de uma águia e o levasse ao Olimpo para que servisse ambrosia às divindades, corresponde, no zodíaco, à figura do aguadeiro, o homem que sustém e verte a ânfora, símbolo de Aquário.
Outros acontecimentos dignos de nota: nessa data Thomas Edison registra a patente do seu fonógrafo (1878) e a estação espacial MIR é lançada (no ano de 1986. Esta permanece ativa até 23 de março de 2001, quando, numa operação cuidadosamente planejada, desintegra-se adentrando nossa atmosfera e desaparece em inúmeros fragmentos nas profundezas do Pacífico).
Em 1978, o mundo vê a cara de Sandra. Parabéns, minha amiga!

Tudo bem, boneca, mas sem beijo na boca!


"_Ninguém me merece! Ninguém jamais me mereceu!"

("Ad aeternum" - mista, A4)


I thought you'd be out of my mind
And I'd finally found a way to learn to live without you
I thought it was just a matter of time
Till I had a hundred reasons not to think about you

But it's just not so
And after all this time, I still can't let go

I've still got your face
Painted on my heart
Scrawled upon my soul
Etched upon my memory, baby

And got your kiss
Still burning on my lips
The touch of my fingertips
This love so deep inside of me, baby

I've tried everything that I can
To get my heart to forget you
But it just cant seem to

I guess it's just no use
In every part of me
Is still a part of you

And I've still got your face
Painted on my heart
Scrawled upon my soul
Etched upon my memory, baby

And got your kiss
Still burning on my lips
The touch of her fingertips
This love so deep inside of me, baby

I've still got your face
Painted on my heart
Painted on my heart
Painted on my heart, oh baby

Something in your eyes keeps haunting me
I'm trying to escape you
And I know there ain't no way to
To chase you from my mind

I've still got your face
Painted on my heart
Scrawled upon my soul
Etched upon my memory baby

And got your kiss
Still burning on my lips
The touch of my fingertips
This love so deep inside of me, baby

I've still got your face
I've still got your face
Painted on my heart
Painted on my heart


Painted on my Heart (The Cult)

Jesus! Toma A conta!"


("Jesus" - pastel, A3)

Buscai e achareis; pedi e dar-se-vos-á.
Pois há tempo para tudo debaixo do sol!
Tempo para ósculos escuros e multifocais; salientes e sobressalentes de contato, (i. é, pra beeeem pertinho).
E também para monóculos e mesóclises, equilibrados sobre o nariz cansado!
Tempo para o pé, plantar, e para mão, maná (e outra palma grande-manu-faturar).
Tempo para colher e para garfar!
Tempo de guardar, pra nada, e cagar pra tudo!
Para adubar seu jardim e decorar sua alma (e o resto daquela poesia imeeeeeeeeeeeeensa! Um dia vc aprende...)
Enfim, tempo para edificar um moinho e ventilar!
Moer a queixa e encher a pança!
Depois ter uma puta Dulcinéia (aquela de la Mancha!); e fazer dieta.
Mas comei e bebei, gozai (usai engov e camisinha) porque isso é um Don e a sabedoria envelhece demais. Ah, e filtro solar!
Em último caso, batei, e dar-se-vos-á a outra face.
E que os oculista, Deus me livre!, nunca mexa no meu!
Que assim seja.



Sai de mim
Que eu não quero mais saber de você
Esse eu te quero já não me convence mais
E agora já nem me incomoda
Sai de mim, não gosto de ser rejeitado
E agora não tem volta

Eu pego o bonde andando
Você pegou o bonde errado

Sua curiosidade é má
E a ignorância é vizinha da maldade
E só porque eu tenho não pense que é de mim
Que você vai ter e conseguir o que não tem
Só estou aberto a quem sempre foi do bem
E agora estou fechado pra você
Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você
Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você
Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você
Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você

Não me procura não
Você não vai me achar
Você não consegue entender

Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você
Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você
Não, não, não venha pra cá, que eu não quero mais saber de você

Não me procura não
Você não vai me achar
Você não consegue entender


 "Do espírito" (Legião Urbana)

"...molha a outra."


("Estudo de mãos" - pastel, A4)

"Uma mão..."


("Estudo de mãos" - mista, A4)

“I've been trying to figure something in my head, and maybe you can help me out, yeah? When a person is insane, as you clearly are, do you know that you're insane? Maybe you're just sitting around, reading "Guns and Ammo", masturbating in your own feces, do you just stop and go, "Wow! It is amazing how fucking crazy I really am!"? Yeah. Do you guys do that?”

(Detective David Mills (Brad Pitt) in "Se7en", 1995,  Directed by David Fincher).

Mééééééééé... Hic!


("Estudo para Sátiro" -  pastel oleoso, A4)

Vossa Baixeza...

( "Valsa das cadeiras" - aquarela, A3)

"...não fazia diferença. A terapia não dera resultado. Continuava, mais forte que nunca, o desejo de berrar obscenidades a plenos pulmões." (1984, George Orwell)

Eros e Tânatos, Perséfone e Hades...


("Garden of Idem" - nanquim, A4)
"Time
Don´t let it slip away
Raise yo´ drinkin´ glass
Here´s to yesterday
In time
We´re all gonna trip away
Don´t piss heaven off
We got hell to pay
Come full circle"
"Full circle", Aerosmith

Curioso


heterossexual exclusivo;
heterossexual ocasionalmente homossexual;
heterossexual mais do que ocasionalmente homossexual;
igualmente heterossexual e homossexual, também chamado de bissexual;
homossexual mais do que ocasionalmente heterossexual;
homossexual ocasionalmente heterossexual;
homossexual exclusivo;
indiferente sexualmente.
Alfred Charles Kinsey (23/ 06/ 1894 — 25/ 08/ 1956)
("Androginia" - aguada de nanquim, A3)

Down with Big Brother! Down with Big Brother! Down with Big Brother! Down with Big Brother!


Alguém que, do fundo de sua solidão, desenha olhos pra sentir que é olhado e que pode, portanto, existir em paz.

("Olhar" - mista, A3)

21 janeiro, 2008

Patrono


("Dr. Reynaldo Kuntz Busch" - 100 x 60 cm, óleo sobre tela, acervo)

Meça e corte!

("Cosmo" - óleo sobre tela, 40 x 60 cm, acervo.)

"Amor-próprio e ódio a si próprio são as mais profundas das forças produtivas terrenas."
(Hugo Hofmannsthal)

Devaneio

Numa atmosfera de sensações e reminiscências, todo o encanto do mistério feminino, sua subjetividade, sentimentos e contemplação que podem provocar no espectador o desejo e a reflexão sobre a beleza desse universo, ao mesmo tempo único e complexo.

("Mulher com lenço" - óleo sobre tela, 60 x 40 cm, acervo)

Sintonia fina


A transcendência da dimensão materna figura nesse quadro que tenta exprimir em cores e formas, as marcas indeléveis, profundas e universais do sentimento mútuo, biunívuco, numinoso, de criadora e criatura, provedora e receptor, mãe e filho.

("Mãe e bebê" - óleo sobre tela, 40 x 30 cm, acervo.)

(...)


("Aqr." - acrílico sobre tela, 60 x 40 cm, acervo)

Entrar na alma sem ser convidado nem invasivo, 
com a solenidade de quem entra num templo e
com a delicadeza de uma brisa, e ser sempre bem-vindo.
Perceber suas cores.
Palmilhar os cantos da alma e percebe-la alegre, triste, dolorida, pensativa.
Ter para cada situação uma pílula de efeito imediato e com precisão cirúrgica.
Sem nunca precisar ouvir uma confissão inspira sentimento de perdão e justificação
Sem penitências, sem conselhos.
Não atribui para si a infalibilidade, 
Portanto, tão confortavelmente humano e tão próximo.
Perseverar em conhecer sua congregação de amigos e exorta-la que, ao contrário do que tantos pensam não é dar bronca mas animar, estimular, confortar.
Extremamente masculino justamente por não temer o feminino.
Apreciador da beleza do feio, da feiúra do belo. 
Comungar com você é comer o pão da palavra, tomar o vinho da poética numa liturgia de afetividade.



(Texto de Solange Maria de M. Marcelino)

Parati.


("Casario " - óleo sobre tela, 30 x 40 cm, acervo.)

Sossego...

("Flores do campo" - aquarela, A3

- Referência:  "Jardim de Verão" de Charles Reid)


Pra que serve o amor

Pra que serve o amor? 
A gente conta todos os dias
Incessantemente histórias 
Sobre a que serve amar?

O amor não se explica 
É uma coisa assim 
Que vem não se sabe de onde 
E te pega de uma vez

Eu, eu escutei dizer 
Que o amor faz sofrer 
Que o amor faz chorar
Pra que se serve amar?

O amor, serve pra que?
Para nos dar alegria 
com lágrimas nos olhos 
É uma triste maravilha

No entanto, dizem sempre 
Que o amor decepciona 
Que há um dos dois 
Que nunca está contente

Mesmo quando o perdemos 
O amor que conhecemos 
Nos deixa um gosto de mel 
O amor é eterno

Tudo isso é muito lindo 
Mas quando acaba 
Não lhe resta nada 
Além de uma enorme dor

Tudo agora 
Que lhe parece "rasgável" 
Amanhã, será para você 
Uma lembrança de alegria

Em resumo, eu entendi 
Que sem amor na vida 
Sem essas alegrias, essas dores 
Nós vivemos para nada

Mas sim, me escute 
Cada vez mais eu acredito
E eu acreditarei pra sempre 
Que é pra isso que serve o amor

Mas você, você é o último 
Mas você, você é o primeiro 
Antes de você não havia nada 
Com você eu estou bem

Era você quem eu queria 
Era de você que eu precisava 
Eu te amarei pra sempre 
E a isso que serve o amor.

( "A quoi ça sert l'amour", Edith Piaf, trad.)

Esta letra foi retirada do site www.letras.mus.br

Labirinto

... que dá origem à série, de onde tudo vem, pra onde tudo vai, aonde tudo acaba. E recomeça...

("Canaã" - mista, A2)

Precisa perder o medo do sexo
Precisa perder o medo da morte
Precisa perder o medo da música
Precisa perder o medo da música
O que se vê não se via
O que se crê não se cria
Precisa perder o medo da musa
Precisa perder o medo da ciência
Precisa perder o medo da perda
Da consciência
O que se vê não se via
O que se crê não se cria
Precisa perder o medo de mim
Precisa perder o medo de mim
Precisa perder o medo da música
Precisa perder o medo da música
O que se vê não se via
O que se crê não se cria
Medo Medo Medo Medo
O que se crê não se cria
Precisa perder o medo da musa
Precisa perder o medo da musa
Precisa perder o medo da música
Precisa perder o medo da música
Medo Medo Medo Medo
O que se crê não se cria

"Medo"(Titãs)

Rubi (alternativa)

Acho que vi um gatinho...
("Rubi" - aquarela, A4)


"É bom ter um monte de gatos em volta. Se você está mal, basta olhar pra eles e fica melhor, porque eles sabem que as coisas são como são. Não tem porque se entusiasmar com a vida, e eles sabem. Por isso, são salvadores. Quantos mais gatos um sujeito tiver, mais tempo viverá. Se você tem cem gatos, viverá dez vezes mais que se tivesse dez. Um dia, isso será descoberto: as pessoas terão mil gatos e viverão para sempre."
(BUKOWSKI, Charles).

Spaguetti de sábado à noite


És eternamente responsável pelo seu jeito canivete de ser. Eu disse cativante.

("Rubi" - mista, A2)



  Se te queres matar, por que não te queres matar? 
  Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida, 
  Se ousasse matar-me, também me mataria... 
  Ah, se ousares, ousa! 
  De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas 
  A que chamamos o mundo? 
  A cinematografia das horas representadas 
  Por atores de convenções e poses determinadas, 
  O circo policromo do nosso dinamismo sem fím? 
  De que te serve o teu mundo interior que desconheces? 
  Talvez, matando-te, o conheças finalmente... 
  Talvez, acabando, comeces... 
  E, de qualquer forma, se te cansa seres, 
  Ah, cansa-te nobremente, 
  E não cantes, como eu, a vida por bebedeira, 
  Não saúdes como eu a morte em literatura! 

  Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente! 
  Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém... 
  Sem ti correrá tudo sem ti. 
  Talvez seja pior para outros existires que matares-te... 
  Talvez peses mais durando, que deixando de durar... 

  A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado 
  De que te chorem? 
  Descansa: pouco te chorarão... 
  O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco, 
  Quando não são de coisas nossas, 
  Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte, 
  Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros... 

  Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda 
  Do mistério e da falta da tua vida falada... 
  Depois o horror do caixão visível e material, 
  E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali. 
  Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas, 
  Lamentando a pena de teres morrido, 
  E tu mera causa ocasional daquela carpidação, 
  Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas... 
  Muito mais morto aqui que calculas, 
  Mesmo que estejas muito mais vivo além... 
  Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova, 
  E depois o princípio da morte da tua memória. 
  Há primeiro em todos um alívio 
  Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido... 
  Depois a conversa aligeira-se quotidianamente, 
  E a vida de todos os dias retoma o seu dia... 

  Depois, lentamente esqueceste. 
  Só és lembrado em duas datas, aniversariamente: 
  Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste. 
  Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada. 
  Duas vezes no ano pensam em ti. 
  Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram, 
  E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti. 

  Encara-te a frio, e encara a frio o que somos... 
  Se queres matar-te, mata-te... 
  Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ... 
  Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida? 

  Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera 
  As seivas, e a circulação do sangue, e o amor? 

  Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida? 
  Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem. 
  Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma? 

  És importante para ti, porque é a ti que te sentes.  
  És tudo para ti, porque para ti és o universo, 
  E o próprio universo e os outros 
  Satélites da tua subjetividade objetiva. 
  És importante para ti porque só tu és importante para ti.   
  E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?   

  Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido? 
  Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces, 
  Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial? 

  Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida? 
  Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente, 
  Torna-te parte carnal da terra e das coisas! 
  Dispersa-te, sistema físico-químico 
  De células noturnamente conscientes 
  Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos, 
  Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências, 
  Pela relva e a erva da proliferação dos seres, 
  Pela névoa atômica das coisas, 
  Pelas paredes turbihonantes 
  Do vácuo dinâmico do mundo...

"Se te queres",  poema de Álvaro de Campos

Hora de parar


("Souvenir de Geova" - mista, A3)

"E depois de mil maratonas, dez mil expedições (tripuladas ou não) ao poderoso computador de plasma, extraordinário arquiteto, divino  onipensantesensitivo cérebro, chegareis, homens trôpegos e esfarrapados, aos pés dos filósofos românticos, ao coro dos poetas ridículos e  engrossareis o bordão dos insólitos casais boêmios, dos viciados incorrigíveis e dos insanos em geral: "_Se há uma coisa voluntária numa mulher ou num homem, é o coração! Sim, eis o humano automóvel! Eis a negra locomotiva fantasma!"

Café é uma droga. Mmmmm...



Aceita um cafezinho?

("Café" - pastel, A4)

... a mais bela tribo...

("Era Azteca" - bico de pena e aquarela, A3)

"...uma índia doente, vendo que não poderia fugir nem escapar aos cães que a dilacerariam, como faziam a todos os outros, apanhou duma corda e enforcou-se numa trave, tendo amarrado ao pé uma criança que tinha, de um ano de idade; nem apenas tinha acabado de fazê-lo eis que chegaram os cães para agarrar a criança, ao mesmo tempo em que, enquanto morria, um irmão religioso a batizava " (Bartolomé de las Casas, 1474- 1566).

"O Pensador"

("O Pensador" -  mista, A2

- referência: retrato da escultura de Auguste Rodin .)

O anão tem um carro com rodas gigantes
Dois elefantes incomodam muito mais
Só os mortos não reclamam
Os brutos também mamam
Mamãe eu quero mamar
Eu não tenho onde morar
Eu moro aonde no mora ninguém
Quem tem grana que dê a quem não tem
Racio símio Racio símio Racio símio Racio símio
Racio símio Racio símio Racio símio Racio símio
Quem esporra sempre alcança
Com maná adubando dá
Ninguém joga dominó sozinho
É dos carecas que elas gostam mais
A soma dos catetos é o quadrado da hipotenusa
Nem tudo que se tem se usa
Racio símio Racio símio Racio símio Racio símio
Racio símio Racio símio Racio símio Racio símio
Os cavalheiros sabem jogar damas
Os prisioneiros podem jogar xadrez
Só os chatos não disfarçam
Os sonhos despedaçam
A razão é sempre do freguês
Eu não tenho onde morar
Eu moro aonde não mora ninguém
Quem come prego sabe o cu que tem
Racio símio Racio símio Racio símio Racio símio
Racio símio Racio símio Racio símio Racio símio

"Racio símio" (Titãs)

Fernanda

("Fernanda" - pastel seco, A2)

Sopra un foglio di carta lo vedi il sole è giallo
Ma se piove due segni di biro ti danno un
Ombrello
Gli alberi non sono altro che fiaschi di vino
Girati
Se ci metti due tipi là sotto saranno ubriachi
L’erba è sempre verde e se vedi un punto
Lontano
Non si scappa o è il buon dio o è un gabbiano e va

Verso il mare a volare
Ed il mare è tutto blu
E una nave a navigare
Ha una vela non di più
Ma sott’acqua i pesci sanno dove andare
Dove gli pare non dove vuoi tu
E il cielo sta a guardare
Ed il cielo è sempre blu
C’è un aereo lassù in alto
E l'aereo scende giu
C’è chi a terra lo saluta con la mano
Va piano piano fuori da un bar
Chissà dove va

Sopra un foglio di carta lo vedi
Chi viaggia in un treno
Sono tre buone amici che mangiano e parlando piano
Da un'america all'altra è uno scherzo ci vuole un secundo
Basta fare un bel cerchio ed ecco che hai tutto il mondo
Un ragazzo cammina cammina arriva ad un muro
Chiude gli occhi un momento e davanti si vede il futuro già

E il futuro è un'astronave
Che non ha tempo nè pietà
Va su marte va dove vuole
Niente mai lo sai la fermerà
Se ci viene incontro non fa rumore
Non chiede amore e non ne dà
Continuiamo a suonare
Lavorare in città
Noi che abbiamo un pò paura
Ma la paura passerà
Siamo tutti in ballo siamo sul più bello
In un acquarello che scolorirà

Sopra un foglio di carta lo vedi il sole è giallo ma scolorirà
E se piove due segni di biro ti danno un ombrello che scolorirà
Basta fare un bel cerchio ed ecco che hai tutto un mondo che scolorirà

"Acquarello" (Toquinho)

Composição: Toquinho / M. Fabrizio / G. Morra

Fernanda

("Fernanda" - lápis de cor e pastel, A2)

"Belo" - junto com "gracioso", "bonito" ou "sublime", "maravilhoso", "soberbo" e expressões similares - é um adjetivo que usamos freqüentemente para indicar algo que nos agrada. Parece que, nesse sentido, aquilo que é belo é igual àquilo que é bom e, de fato, em diversas épocas históricas criou-se um laço estreito entre o Belo e o Bom.

Se, no entanto, julgarmos com base em nossa experiência cotidiana, tendemos a definir como bom aquilo que não somente nos agrada, mas que também gostaríamos de ter. Infinitas são as coisas que consideramos boas: um amor correspondido, uma honesta riqueza, um quitute refinado, e em todos esses casos desejaríamos possuir tal bem. É um bem aquilo que estimula o nosso desejo. Mesmo quando consideramos boa uma ação virtuosa, gostaríamos de tê-la realizado nós mesmos, ou nos propomos a realizar uma outra tão meritória quanto aquela, incitados pelo exemplo daquilo que consideramos ser um bem.

Ou então chamamos de bom algo que é conforme a algum princípio ideal, mas que custa dor, como a morte gloriosa de um herói, a dedicação de quem trata de um leproso, o sacrifício da vida feito por um pai para salvar um filho… Nesses casos reconhecemos que a coisa é boa mas, por egoísmo ou por temor, não gostaríamos de nos ver envolvidos em uma experiência análoga.

Reconhecemos aquela coisa como um bem, mas um bem alheio que olhamos com um certo distanciamento, embora comovidos, e sem que sejamos arrastados pelo desejo. Muitas vezes, para indicar ações virtuosas que preferimos admirar a realizar, falamos de uma "bela ação".

Se refletimos sobre o comportamento distante que nos permite definir como belo um bem que não suscita o nosso desejo, compreendemos que falamos de Beleza quando fruímos de alguma coisa por aquilo que é, independentemente da questão de possuí-la ou não. Até mesmo um bolo de casamento bem confeccionado, quando o admiramos na vitrine do confeiteiro, nos parece belo, mesmo que, por questões de saúde ou de inapetência, não o desejemos como um bem a ser adquirido. É bela alguma coisa que, se fosse nossa, nos deixaria felizes, mas que continua a sê-lo se pertence a outro alguém. Naturalmente não se considera o comportamento de quem, diante de uma coisa bela como o quadro de um grande pintor, deseja possuí-lo por orgulho de ser o possuidor, para poder contemplá-lo todo dia ou porque tem grande valor econômico. Estas formas de paixão, ciúme, desejo de possuir, inveja ou avidez, nada têm a ver com o sentimento do Belo. O sequioso que ao dar com uma fonte precipita-se para beber, não lhe contempla a Beleza. Poderá fazê-lo depois, uma vez satisfeito o seu desejo.

Por isso, o sentido da Beleza é diverso do sentido do desejo. Podemos considerar alguns seres humanos belíssimos, mesmo que não os desejemos sexualmente, ou que saibamos que nunca poderão ser nossos. Se, ao contrário, se deseja um ser humano (que além do mais poderia até ser feio) e não se pode ter com ele as relações almejadas, sofre-se.

(Umberto Eco in "História da beleza")


A longa sacola que arrastamos atrás de nós...


"...inferioridade, agressão, neurose, lado negativo da personalidade, soma de todas as qualidades desagradáveis que o indivíduo quer esconder, o lado inferior, sem valor e primitivo da natureza do ser humano, a “outra pessoa” em um indivíduo, seu próprio lado obscuro..."

("Contraste" - pastel, A3)

"(Hein) bocadura?"


"_Pegagus?! Há, essa foi boa!

Vamos logo, Figueiredo, não temos o dia inteiro! Abra a boca e diga Aaaaaaaaaaahh..."

("Spe(tá)cullum" - mista, A3)


A rebelião física não é possível no momento, nem qualquer preliminar de rebelião. Dos proletários nada há a temer. Entregues a si mesmos, continuarão, de geração em geração e de século a século, trabalhando, procriando e morrendo, não apenas sem qualquer impulso de rebeldia, como sem capacidade de descobrir que o mundo poderia ser diferente do que é. Só poderiam ficar mais perigosos se o progresso da técnica industrial tornasse necessário educá-los mais; porém, como a rivalidade militar e comercial não tem mais importância, declina o nível da educação popular. As opiniões das massas, ou a ausência dessas opiniões, são alvo da máxima indiferença. Não é possível dar-lhes liberdade intelectual porque não possuem intelecto.

("1984", George Orwell)

20 janeiro, 2008

"All's I'mer"


"This is not how I am."

("All's I'mer" - aquarela e nanquim, A3)

Decididamente, eu não sou gente.
Eu sou um ente incompetente, mal-acabado
Eu, infelizmente, não consigo sequer ser um mendingo

Dá tudo errado
Deus, quando me fez, devia estar muito invocado
Ganhou o campeonato de fazer nego sofrer
Urubu pousou na minha sorte
Eu nasci pra boi de corte
Deu cupim no meu viver

Sábado passado, quando eu vinha
Uma zinha "da pontinha"
Fez uma linda carinha para mim
Eu, aí, peguei minha pessoa
E fui andando para a boa
Na esperança de um domingo menos ruim

Pois, amigo, que é que você acha
Vou e levo uma "bolacha"
De um frajola que eu não sei de onde surgiu
E que, além de tudo, não contente 
Me mandou apenasmente

Quando você está mesmo sem sorte
Nem a vida e nem a morte
Querem nada de saber de você, não
Você pode estar morto, defunto
E vêm os vermes todos juntos
Lhe pedir pra não seguir a refeição

Chega o dia e a vida está tão chata
Que você pega e se mata
Dá um tiro que parece de canhão
Mas a sua sorte é tão ingrata que ele sai pela culatra
Com licença da expressão

"Decididamente" (Vinícius de Moraes)

Ellis

"_Quero ver deus..."

("Ellis" aquarela e nanquim, A3)

"Por que me descobriste no abandono?
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo?
Quando eu estava bem, morta de sono?

Com que mentira abriste o meu segredo?
De que romance antigo me roubaste?
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo?

Por que não me deixaste adormecida?
E me indicaste o mar, com que navio?
E me deixaste só, com que saída?

Por que desceste ao meu porão sombrio?
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio?"

"Soneto" (Chico Buarque de Hollanda)

Highway to hell!


"Ir às trevas com uma luz, significa conhecer a luz.

Para conhecer as trevas ande pela escuridão."

("Sátiro" técnica mista, A2) 

Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...

Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...

Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...

Vamos celebrar Eros e Tanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...

Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros...

Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...

Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...

Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...

Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...

Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!...

"Perfeição"
(Legião Urbana)

Composição: Renato Russo