27 agosto, 2010

Tempo presente.

(...)
Sempre faz tremer
Sempre faz pensar
Nos abismos da ilusão
Quando, como e onde
Vai parar meu coração?
Há no seu olhar
Algo de saudade
De um tempo ou lugar
Na eternidade
Eu quisera ter
Tantos anos-luz
Quantos fosse precisar
Pra cruzar o túnel
Do tempo do seu olhar.

(Trecho da canção Seu Olhar de Gilberto Gil, do álbum Dia Dorim Noite Neon, 1985)



Não importa o que quer que pensemos que temos de especial. Tudo o que temos é tempo.
É a única coisa que podemos dar ou reter para nós mesmos. É o único valor.
É o que faz de cada um de nós humanos, seja lá o que mais isso possa significar.
Tempo. É o que somos.
Partilhar o tempo e a memória do tempo partilhado.
É preciso resguardar um pouco pra nós mesmos, mas é completa loucura, uma loucura egoísta e inútil (como tudo) guardar todo o tempo pra si mesmo. Ele escorre por entre os dedos. Silício, grão de silêncio. Ampulheta digital.
Esvai-se como água. Evaporamos nós, conjugação de água, sais. Eclipsidramo-nos. Tempo.
Se ebulimos ou se somos vaporizados... Se eclâmpsia, se eclipse... Deixamos um corpo de chão? Nos consumimos? Não importa. Quanto tempo/?/!/...
Pó, de estrelas e sóis. Pó de estradas sois.
Pois importa o passaTempo e você tem sido o meu, Pequena Eternidade. Doce galáxia de tempo condensado. Seus dois olhosburacosnegros.
Do nada ainda desabo, minha cara, fátuo consumado, qualquer meio-dia na sua.