05 janeiro, 2011

Dada

Sei que vocês vieram aqui hoje para ouvir explicações. Bem, não esperem ouvir qualquer explicação sobre o Dada. Vocês podem explicar-me porque existem? Não têm a menor idéia. Dirão: existo para fazer felizes meus filhos. Mas em seus corações sabem que não é isso. Dirão: existo para proteger meu país contra a invasão dos bárbaros. É uma boa razão. Dirão: existo porque Deus quer. Isso é história da carochinha para crianças. Vocês nunca serão capazes de me dizer por que existem, mas sempre estarão prontos a manter uma atitude séria em relação à vida. Jamais compreenderão que a vida é uma pilhéria, pois jamais estarão suficientemente sós para rejeitar o ódio, as discussões, tudo o que exige um esforço, em favor de um estado de espírito sereno e constante que torne tudo igual e sem importância.

(...) Dizem-nos com frequência que somos incoerentes, mas nessa palavra as pessoas tentam colocar um insulto que me é difícil imaginar. Tudo é incoerente. O cavalheiro que resolve tomar um banho mas em vez disso vai ao cinema. O que quer ficar calado mas diz coisas que nem sequer lhe passaram pela cabeça. Outro que tem uma idéia precisa sobre um assunto mas só consegue expressar o contrário em palavras que para ele não passam de má tradução. Não existe lógica. Apenas necessidades relativas descobertas a posteriori, válidas não em algum sentido exato, mas somente como explicações.
Os atos da vida não têm começo nem fim. Tudo acontece de maneira idiota. Por isso tudo é igual. A simplicidade é chamada Dada.

(...) Como tudo na vida, o Dada é inútil. O Dada é sem pretensão, como a vida deve ser.


Excertos da "Conferência sobre o Dada" pelo poeta romeno Tristan Tzara, publicada originalmente em Merz (Hannover), II, n.7, 1924. A tradução brasileira foi feita a partir do inglês por Waltensir Dutra.
Extraído de: CHIPP, Herschell B. - Teorias da Arte moderna, Ed. martins Fontes, São Paulo, 1996.