20 outubro, 2010

La(r)va de vulcão.

Tenho feito péssimas coisas a algumas pessoas durante a minha vida. Perpetrei gestos repulsivos, alguns que considero realmente imperdoáveis.
Ingratidão,
inveja,
despeito,
desprezo,
omissão
(, chatice!)...
Mas nada se compara ao que tenho feito a mim mesmo.
Ao que me forcei a ser.
À frieza e ao tédio hediondo a que decidi acostumar.
Ao que me torne(h)ei.
Essa preguiça, mortal, de viver.
Essa luxúria que azedou e que quando é calma,
é tristeza, reclame em letras garrafais.
Essa autopiedade monumental, comprimindo implosiva a espinha.
Esse medo condensado. Medusante. De tudo.
Sobretudo esse ódio, tumor espiritual
que do riso alheio se alimenta
e derova sem sentir a ternura dos olhares partilhados.
Ódio que, represado
ou canalizado,
é inalienável.
Marémotocontínuo,
eternamente retornando ao mar-
negro, ao mar-
morto, ao mar-
asmo.
De tudo me priva, exceto da culpa,
vasta culpa,
peso monumental,
morto,
onde jaz indelevelmente inscrito um signo sem designo.
Mais sonora que o miolo mecânico de um Big Ben.
Pendendo desproporcional
à guisa de medalhão do peito encovado,
acorrentado. Não adianta... (tic)
Não adianta... (tac)

Levantei muros, altos, densos, para poder gritar em silêncio.
Cerrei os olhos e encolhi de tamanho.
Preso a uma folha
(de papel) secretei (em branco)
queratina
(pautado) em desespero.
Termostato cravado no inverno glacial,
ar intelectual condicionado. Centrado.
Nas mãos, as unhas crescendo, pra dentro das mãos cerradas;
adentram a carne consumida, lacerando os ossos magros, tocando os nervos em surda cacofonia.
Fora, a descompostura do corpo.
E o desconcerto expressivo do rosto,
prolongamento ridículo da má formação que é o eu frente aos outros.

Olho.
Por trás desses polidos prismas esféricos, castanhos
de âmbar
(DE MERDAAAAAAAAAA)
observo, entre taxidérmico e peristáltico, aquilo que chamam vida,
lá fora. A dois palmos do nariz observo
à distância aqueles que são alegres e que a amam.
Cheios de opiniões e complacências, arrastando grandes verdades
e empurrando pequenos amores.
Pululam festivamente pela sua superfície de crateras.
Imperfeita mesmo, como só ela, vida chã, vida sã.

Eu. Eu não tenho nada.
Eu não tenho substância,
nem essência,
nem planos a curto prazo.
Vida vã.
Só a consciência,
alguma dor,
o álcool e
paciência.
Sonho
(artifício)
que um dia explodo.
Finjo gravidade e minto que sou bom.


Bom é o raro,
o abstrato,
o rarefeito. Suposição teorética.
No máximo possibilidade.
A maldade, além de ponto de vista constituído, é estatísica,
tem histórico e base experimental.

Mas, não temam.
Eis que o vulcão estremece.