30 agosto, 2010

Inquietude

Alvoroço repentino, súbita vontade de criar algo, dar vazão ao gestual anárquico do corpo que segue suas próprias regras, lutando contra essa obsessão da ordem racional e do auto-controle. Vontade de sujar tudo de cores como num gozo contido e longamente esperado.
Sim, gozar pra pelo menos dessa vez abortar Atená, ave cesária que irrompe à janela do ovo-cuca, nesse parto mais das vezes não natural.
Sim, preparar o gozo, que outra coisa se gesta e engole os miolos com pensamentos e tudo. Ave noturna, soturna e agourenta. Equidistante do galo madrugador, que canta a aurora do que há de vir e do corvo que colhe o brilho do olho que não mais há de ver.
Pomba-rola, que se infla ternamente no tesão da manhã. Pomba paz e amor.
Fênix renascida no peito. Se levanta.
Grávido de um parasita autoimplantado , paralisado, atônito e exultante, espero em dores, carne e entranhas carcomidas, ligamentos rompidos, o reverberar do grito primal espumado.
Viro do avesso.
Morro e renasço univitelino. Monstro ipsilone de carne e som, bicéfalo apolodionisíaco.

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